PRINCIPADO INTERMONTANHOSO DA DESMESURADA SOBRANÇARIA – Quando emigrou com a esposa Liz e o filho Brás para o Principado Intermontanhoso da Desmesurada Sobrançaria, o artesão Tom Cruz achou que encontraria um lar pacato e novas oportunidades profissionais. Não imaginava que, em pouco tempo, ele e sua família sofreriam ataques virulentos de xenofobia pelo simples motivo de terem nomes considerados curtos demais.
“Picharam no muro da nossa casa: ‘Repudiamos antropônimos demasiadamente reduzidos! Forasteiros, abandonem imediatamente nosso estimado Principado!’”, lamentou Cruz. “Não posso pagar nada com cheque, porque falam que minha assinatura está faltando pedaço. Na escolinha, apelidaram meu filho de ‘Monossílabo’.”
Para entender as razões por trás de tanto preconceito, entrevistamos um especialista local.
“O polissilabismo constitui o alicerce de nossa organização civilizacional”, esclareceu o hiperonomasticolexicografista Maximiliano Hermenegildo Constantino Teodomiro de Albuquerque Estribeiras Gastalirafondes Sederneiraclídostes Pindaliratribasdabadiagestanoranduba Júnior.
“Vocábulos de extensão reduzida representam evidência alarmante de deterioração linguística e etnocultural. O requisito mínimo que um imigrante deveria observar seria encompridar seu antropônimo como demonstração de reverência ao Principado que os recepcionou”, declarou Pindaliratribasdabadiagestanoranduba Júnior.
“Um ‘Ed’, exemplificativamente, poderia facilmente transformar-se num ‘Ednaldomílson’.”
Um estudo recente, porém, sugere que a integração de mais imigrantes de nomes curtos poderia gerar benefícios tangíveis ao Principado – principalmente ao seu sistema educacional.
“Analisamos o tempo dedicado à chamada escolar nas escolas de 50 territórios de Macadâmia”, relatou um artigo publicado mês passado na revista pedagógica A Palmatória.
“Descobrimos que, no Principado Intermontanhoso da Desmesurada Sobrançaria, a chamada pode ocupar até 80% de cada aula, restando pouco tempo para o aprendizado em si e colocando os alunos em grande defasagem em relação a outros lugares. As crianças do Principado só aprendem a escrever o nome completo quando estão entrando na quarta série”.
Para os imigrantes, esperar demais pode não ser opção. Tom Cruz, por exemplo, já considera se mudar com a família novamente.
“Estamos pensando em ir para Lá, um vilarejo que ainda não sabemos bem onde fica, mas que não deve ter problemas com nomes curtos”.
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🗞️ Sobre o projeto
O mundo fantástico e absurdo de Macadâmia é o cenário do primeiro romance (ainda inédito) de Lucas Paio, também intitulado Macadâmia. Leia mais sobre o projeto aqui.
Imagem de abertura por Xate Gepetê com base em instruções minuciosas (e furiosas) do Editor-Chefe.